CARTA DAS PRIMEIRAS BRASILEIRAS

Somos raízes e cura da terra

 

1 MULHERES ORIGINÁRIAS

1.1 A ANMIGA – Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade é um movimento ancestral, tradicional e social, criado e constituído por indígenas mulheres dos seis biomas brasileiros, desde o chão da aldeia ao chão do mundo.

1.2 Somos Mulheres Biomas, porque somos terra, sementes, raiz, tronco, galhos, folhas e frutos, mulheres conectadas com o corpo da Terra. Somos  diversas, somos avós, mães, filhas e netas. Nós pelas que vieram antes de nós, nós por nós e nós pelas virão.

1.3 Somos mulheres mobilizadas, politizadas, trazendo os nossos saberes e vozes ancestrais. Somos a continuação de muitas lutas, pela defesa dos direitos dos Povos Indígenas, das indígenas  mulheres, dos direitos ambientais e dos direitos humanos: somos a luta pela vida.

 

2 ANCESTRALIDADE

2.1 A ANMIGA é resultado de um longo processo de lutas e resistências ao longo desses cinco séculos. A primeira Marcha das Mulheres Indígenas , realizada em 2019,  em Brasília, cujo tema foi “Território Nosso Corpo, Nosso Espírito”, demonstrou a força coletiva da articulação e mobilização das mulheres.  Essa conexão gestou uma frente representativa de articulação nacional, com saberes e tradições diversas. O nome ANMIGA é um ritual de passagem para fortalecer o coletivo, que significa romper e atravessar fronteiras.

 

3 CORPO-TERRITÓRIO

3.1 A ANMIGA, na rede de indígenas mulheres engajadas, projeta vozes diversas na defesa da mãe terra, dos nossos biomas, dos corpos-territórios, para mobilizar e fortalecer a articulação de mulheres indígenas.

3.2 A ANMIGA, na potência de sua ancestralidade, luta contra o silenciamento de vozes, contra tudo que implica na desqualificação da qualidade de vida, luta contra tudo o que impede a promoção do bem-viver, contra o ódio e desrespeito manifesto em forma de racismo e colonialismo voltado aos nossos povos desde o tempo das primeiras invasões.

3.3 A ANMIGA , se enraíza em valores íntegros e originários, de diversidade cultural, respeito, união, afeto, escuta, confiança e sabedoria. Atuamos com autonomia e coragem na defesa das guerreiras da ancestralidade, sem distinção de línguas, culturas, territórios e biomas, e também no combate a todos os tipos de discriminação e violência de gênero.

 

  1. NÓS POR NÓS

4.1 É chegada a hora de um despertar para o engajamento coletivo em busca de uma grande revolução política e ambiental, capaz de produzir novas relações de solidariedade e coletividade por meio de valores e princípios do comum, em profundo desejo de construir o bem viver global.

4.2 Lutamos para romper as mordaças do silenciamento, do machismo, do patriarcado colonial, da monocultura etnocida e ecocida, da invisibilidade e da ausência de participação política nas tomadas de decisão.

 

  1. NÓS PELAS QUE VIRÃO

5.1 A ANMIGA é necessária para impulsionar as mulheres no território e fortalecer a luta das indígenas mulheres no Brasil sementeando[1] vozes e esperança no futuro.

5.2 A ANMIGA é essencial para o Brasil continuar existindo, porque a cura somos nós. Avivando sempre a autonomia das indígenas mulheres desde os territórios até às instâncias de poder sem cerca e sem fronteiras.

 

6 REFLORESTARMENTES

6.1. A ANMIGA organiza os conhecimentos e tecnologias ancestrais desenvolvidos e preservados por nós e os coloca à disposição de todas as pessoas que compartilham conosco a preocupação com nosso futuro, nossas vidas e com a terra.