icon

Anmiga vai ao Canadá defender a vida das indígenas mulheres e a biodiversidade

Puyr Tembé, Jozi Kaingang e Cris Pankararu estiveram presentes na COP15 para articular a incidência política das indígenas mulheres na luta pela vida sustentável do planeta e dos biomas brasileiros

Foto: Kamikia Kisedje / Apib

A Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga) participou da Convenção sobre Diversidade Biológica (COP15), que aconteceu entre os dias 7 e 19 de dezembro, no Canadá, para afirmar a importância das indígenas mulheres na vida do planeta. Demarcar as Terras Indígenas foi pautado como prioridade para ser incluído na meta de conservar, ao menos, 30% dos ecossistemas e recuperar terras degradadas no mundo até 2030. 

 

A delegação da Anmiga realizou mais de 20 atividades entre mobilizações, palestras e reuniões e contou com a participação de Puyr Tembé, do bioma Amazônia, Jozi Kaingang, do bioma Mata Atlântica e Cris Pankararu do bioma Caatinga. As agendas foram realizadas em conjunto com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) para solicitar que os governos tenham metas mais ambiciosas para a garantia da vida no planeta.

 

A Anmiga reforçou a necessidade dos governos considerarem as  Terras Indígenas (TIs) enquanto áreas protegidas, pois hoje a COP15 reconhece apenas como locais protegidos as terras que não possuem presença humana. Um cruzamento de dados realizado pela APIB, em parceria com IPAM, utilizando a localização das Terras Indígenas no Brasil junto com os dados sobre mudanças de uso do solo, 29% do território ao redor das TIs está desmatado, enquanto dentro das mesmas só tem 2% de desmatamento. O mapeamento mostra que a maior parte das áreas desmatadas está destinada a pastagens para criação de gado (para exportação de carne e de couro) e a produção de soja, mas também destacam plantações de cana, arroz ou algodão, entre outras commodities.

 

“Eles querem colocar no documento oficial os Povos Indígenas apenas no texto geral (texto global) e a gente quer estar em todas as metas possíveis. A proposta aqui na COP15 é que se garanta a conservação de 30% das Florestas, mares e oceanos até 2030, e nós queremos 50%, para este ser um percentual global para todos os países investirem em manter o que nós povos indígenas temos preservados e recuperar áreas e demarcar nossas terras.”, reforçou Puyr Tembé integrante da Anmiga. 

 

De acordo com Jozi Kaingang, a importância das indígenas mulheres participarem da Convenção para denunciar também as violações que acontecem contra os Povos Indígenas. Comprovadamente as TIs e os povos colaboram de forma expressiva no enfrentamento das mudanças climáticas e na preservação da biodiversidade, resistindo às diversas ameaças que sofrem. 

 

“Estar em espaços da COP da Convenção de Biodiversidade  é garantir que nossas vozes serão ouvidas por governos e sociedade civil de outros países, denunciando as violações de direitos, as violências contra nossos territórios e nossos corpos, praticados pelos grandes empreendimentos, pelo desmatamento, pelas minas, pelas commodities produzidas com a invasão das nossas terras ou em territórios em disputa.”, afirma Jozi, indígena mulher dos biomas Mata Atlântica e Pampa. 

 

“Nós temos denunciado a mineradora Belo Sun,  que quer construir a maior mina de ouro a céu aberto do mundo, no Pará, na região da volta grande do Xingu, que já foi impactada pela hidrelétrica de Belo Monte. Belo Sun é um empreendimento Canadense e recebeu recurso de outras instituições do Canadá e a COP15, que debate a biodiversidade acontece no país onde suas empresas violam direitos humanos e ambientais no Brasil. Precisamos barrar esse absurdo”, declara Puyr Tembé, que é coordenadora da Federação dos Povos Indígenas do Estado do Pará (Fepipa). 

 

“A Anmiga traz para esses encontros internacionais a urgência da nossa presença nesses espaços de negociações e debates. Devemos ser respeitadas e ouvidas, nas construções de leis, recomendações e projetos que impactam nossos territórios, nossas vidas e a vida toda a humanidade”, ressalta Cris Pankararu. 

 

IMPORTÂNCIA

A Convenção sobre Biodiversidade é um tratado que possui 3 objetivos principais: 1. A conservação da diversidade biológica, 2. O uso sustentável dos componentes da diversidade biológica, 3. A repartição justa e equitativa dos benefícios decorrentes da utilização dos recursos genéticos. 

Esta COP15 acontece depois de dois anos sem a realização do encontro devido a pandemia da Covid19. Governos de diversos países negociaram, neste ano, o Marco Global para a Biodiversidade Pós-2020, que oferece uma projeção para 2050. O Marco terá quatro objetivos de longo prazo e uma missão com 22 metas para serem concluídos até 2030: conservar pelo menos 30% de terras, fontes de água doce, oceanos e recuperar globalmente ecossistemas degradados.

 

Compartilhe:
Page Reader Press Enter to Read Page Content Out Loud Press Enter to Pause or Restart Reading Page Content Out Loud Press Enter to Stop Reading Page Content Out Loud Screen Reader Support