Texto: Mulheres Terra/ANMIGA
Nós Indígenas Mulheres da rede ANMIGA – nos somamos as nossas ancestrais, com as nossas vozes e corpos coletivos para denunciar os contínuos ataques que estamos sofrendo, diante de muitas violências, silenciamentos e discriminação de gênero.
Todo dia uma de nós é agredida, violentada, espancada ou morta!
Chega de violência contra nossos corpos!
Nós, Indígenas Mulheres, nos deparamos ontem, hoje e amanhã com tamanha violência ocorrida com as nossas parentas no sul do Brasil e em outros estados também.
A violência é o nosso inimigo e o adversário do bem estar das mulheres dentro do seus territórios.
Mesmo assim, estamos em muitas lutas em âmbito nacional e internacional. Somos sementes plantadas através de nossos cantos, buscamos por justiça social, demarcação de território, pela floresta em pé e pela saúde.
Somos mais de 305 Povos, falantes de 274 línguas. Somos mais de 1 milhão de pessoas, sendo 50 % mulheres.
Nós, Indígenas Mulheres, lutamos pela demarcação das terras indígenas, contra a liberação da mineração e do arrendamento dos nossos territórios, contra a tentativa de flexibilizar o licenciamento ambiental, contra o financiamento do armamento no campo. Enfrentamos o desmonte das políticas indigenista e ambiental.
Diante de todas as violações e violências, as quais nós mulheres originárias da terra estamos sendo submetidas: as atrocidades cometidas pelos machismos, pelo racismo com todas as suas faces, o aumento do feminicídio e da intolerância religiosa, tudo isso é reforçado no discurso de um des-governo, racista, homofóbico e anti indígena.
Nós mulheres Guerreiras das Ancestralidade, nos damos as mãos neste momento, para pedir socorro ao mundo. Basta de violência, estão nos matando aos olhos da lei. Estão nos silenciando diante dos olhares daqueles que deveriam nos proteger.
Por meio desta nota, a ANMIGA Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade, manifesta seu repúdio às graves ameaças e torturas sofridas pela parenta Pa’y Tavy Terã, Joana Benites e suas filhas na comunidade de Soberania, no território de Nhanderú Marangatú, município de Antônio João, Mato Grosso do Sul. No dia 5 de março de 2022, a senhora foi resgatada pela equipe do Observatório Kuñague Aty Guasu após ser castigada e mantida refém por lideranças indígenas evangélicas de Campestre, em território Kaiowá e Guarani, onde teve parte de seu cabelo cortado e sofreu diversas agressões com tortura física e psicológica por ser acusada de “bruxaria” e “feitiçaria”. Além disso, as ameaças sofridas incluíam planos de queimá-la viva, segundo apurado pelo Observatório Kuñague Aty Guasu.
Não há palavras adequadas para descrever nossa tristeza e indignação ao ver casos que, como este, mostram que a intolerância religiosa segue perseguindo, roubando as almas e matando os corpos de nossas parentes indígenas, após 522 anos de colonização usando a bíblia como arma de guerra.
Expressamos toda nossa solidariedade à anciã Joana Benites e sua família, bem como à todas as casas de reza, terreiros e espaços sagrados dos povos originários, que tem sido historicamente atacados, em um quadro que lamentavelmente vem se agravando nos últimos tempos.
Todo nosso repúdio e solidariedade à parenta Marcia Camilo Kaingang (ocorrida no Setor Estiva na TI Guarita no dia 8 de março, dia internacional da mulher) e a todas as parentas kaingang, que vem sofrendo ameaças, violências, agressões com ferimentos graves, no conflito que se instalou pela disputa de Lideranças internas da terra indígena (TI) do Guarita. As mulheres desta terra vêm sofrendo há quatro anos, violências impostas por um ex-cacique, ditador, machista, que se esconde atrás de leis criadas por eles para reforçar sua forma de comandar.
Repudiamos e nos somamos a dor da família pela violência e tentativa de feminicídio ocorrida contra a parenta Eva Kaingang, que segue internada em estado grave em Farroupilha no RS.
Nos solidarizamos com a dor dos parentes da jovem Graciane Gonçalves Feliciano, de 23 anos, indígena Kaingang, na Terra Indígena Xapecó, no município de Ipuaçu, no Oeste de Santa Catarina, vítima de feminicídio pelo ex-companheiro.
Como se não bastasse toda essa violência nos territórios, ontem foi aprovado o Projeto de Lei N°191/2020, projeto esse que vem legalizar o ilegal, destruindo nossos corpos, violando nossos direitos, matando as vidas que fazem do território um lugar sagrado, único para o ciclo de vida dos povos originários.
Somos as filhas que com seus corpos pintados de urucum, temos tentado barrar toda essa violência, uma série de barbáries fomentada por um governo genocida. Não irão nos silenciar. E o silêncio do Estado também é uma forma de nos matar.
Pedimos socorro, as mulheres indígenas pedem socorro, a mãe terra pede socorro. Seguiremos em luta por nossos direitos e resistiremos, pois somos árvores fortes enraizadas nesta terra.
Somos muitas, somos múltiplas, somos mil-lheres, cacicas, parteiras, benzedeiras, pajés, agricultoras, professoras, advogadas, enfermeiras e médicas nas múltiplas ciências do Território e da universidade. Somos antropólogas, deputadas e psicólogas. Somos muitas que se movimentam do chão da aldeia para o chão do mundo.
Mulheres terra, mulheres água, mulheres biomas, mulheres espiritualidade, mulheres árvores, mulheres raízes, mulheres sementes e não somente mulheres guerreiras da ancestralidade.
Todas nós, somos contra a qualquer tipo de violência contra os nossos corpos territórios indígenas e o corpo de qualquer mulher no mundo.
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Corpos territórios indígenas mulheres IMPORTAM!
Corpos indígenas IMPORTAM
Nenhuma a menos
Pela Vida das Indígenas Mulheres
NÃO A VIOLÊNCIA!